quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O caderno

Aquela menina tinha todas as caixas e cadernos do mundo e todo o conhecimento que poderia imaginar, então o colocou dentro das caixas e seus cadernos restaram para a sua mente. Gastou um, dois, três e perdeu a conta. Parou de usar. Mas comprou o melhor caderno de todos. Com capa dura e preta, desenhos dourados e folhas completamente brancas, sem linhas, era o caderno da menina. Apesar de tanto usar os outros e de tanto saber que tinha o que escrever, esse novo caderno tinha um Q de especial e ela sabia que não deveria escrever bobagens nele, como muitas pessoas já fizeram com outros cadernos. Sua cabecinha foi torturada por 3 meses, vendo aquele caderno em branco. Ela só conseguia pensar nele em branco, sem letras e símbolos. Nada seria bom o suficiente para o caderno maravilhoso que ela tinha. Nada seria extraordinário o suficiente para o que o caderno pudesse sustentar e guardar consigo.

Aham, insight para aquela garotinha. A melhor coisa que poderia ter pensado para o seu querido caderno finalmente foi posto em prática. Ela escrever a primeira linha e chorou como quando seu cachorro morreu. Chorou porque tudo que tinha escrito naquele caderno, naquele dia, fazia-a chorar. Seria a primeira e não única vez. Ela escrevia, torcendo para que o seu caderno nunca acabasse e ela pudesse escrever para sempre, com a mesma alegria da primeira vez.

domingo, 22 de agosto de 2010

Por que não?

Existem tantas palavras, ditas e escritas a toda hora, em todos os lugares, que as pessoas já se cansaram delas. O tempo sempre traz, para cada pessoa particularmente, um receio de que ele [o tempo] passe tão rápido, que a gente só deva correr cada vez mais, para pegar o próximo trem, que está sempre mais rápido que o anterior. Como os números, as palavras não existem, de fato, por isso têm tantas formas e ninguém as escreve igualmente, mas todos conseguem se entender de alguma maneira. E a gente conversa, e escreve, e desenha e não há como evitar esse fato, embora muitos tentem loucamente, isolando-se nas suas cavernas pessoais, nas suas cabeças - confesso que fazia MUITO isso. É engraçado observar como as pessoas se relacionam, como se conectam, como se evitam, na maioria das vezes, sem nenhum motivo aparente e como podem reverter tudo isso só por causa de outra pessoa, por exemplo.

É inexplicavelmente irritante não conseguir se expressar. Quebrar a cabeça e não conseguir dizer exatamente o que se pensa, sem confundir as pessoas - porque no final sabemos que as pessoas sempre estão confusas o bastante pra não se irritarem. Tudo ao meu redor me influencia, motiva-me, choca-me, entristece-me, então a todo momento eu terei novas coisas na cabeça e nunca vou conseguir defini-las direito. Sempre me perguntei porque escrevia e descobri que queria me conhecer. Quando paro, é como se não estivesse mais em mim. Como se houvesse um piloto automático que me controla por algum momento. Às vezes tudo é tão claro, que respiro calmamente, outras vezes é tão descontrolador meus sentimentos, que se pudesse explodir, já o teria feito. Há tantas coisas em mim que não saem pela garganta, tantas vontades que ainda me deixam presas na cadeira. É incrivelmente sufocante quando duas pessoas sabem o que querem, mas não sabem como o querem, quando elas estão presas à gravidade, e quando nada faz mais sentido. Bob Dylan dizia que ele não fazia música, elas estavam feitas no espaço e ele as escrevia. O mesmo são os sentimentos das pessoas, mas com um detalhe. Todos os sentimentos possíveis estão em cada pessoa e tenho certeza de que a todo momento ela sentirá um diferente. Às vezes quando eles vêm na mesma hora, é tão desesperador. Todos têm todos, mas poucos conseguem senti-los de fato. É tão intenso quando todos os sentimentos se misturam que é quase impossível de descrevê-los, como é quase impossível descrever o nada. Tantos acham a maior idiotice do mundo, e não posso negar, já que agora sooei como completa idiota, mas o que isso é em frente ao racismo? Tudo depende de um ponto de vista, e não creio que o meu esteja mais errado que o de muitas pessoas que conheço. No final, o que poderia pensar é: ENFIM...

terça-feira, 6 de julho de 2010

Pensando bem...

Sou fã de fotografia, confesso. Tiraria foto desde uma formiga até um pôr-do-sol, lindo na imensidão. Ainda assim, sou fã de palavras e acho que o que falta a uma, há na outra. Duas fotos idênticas, com anos de diferença, trazem tantas ideias, tantas fúrias e alegrias distintas, que quase não podemos diferenciá-las. Quem vê foto, nem vê tanto... são as palavras que definem o momento, quando sinceras. Por isso passava mais tempo escrevendo que tirando foto, e pude guardar muito mais de mim que muitas pessoas que conheço. Guardei o que me angustiava e me alegrava e hoje pude sentir como se o tempo não tivesse passado. De repente me senti com 14 anos outra vez e tudo que passava na minha cabeça, naquela época, eu senti de novo. Talvez fosse como se pulasse de pára-quedas e sentisse aquele frio na barriga, que vai até as pernas.

De repente o mundo cai nas minhas costas e, em sobressalto, levanto-me acordada, com a mente entupida de preocupações e ressentimentos. De repente as flores são as ondas misteriosas da noite, que me causam melancolia. De repente tudo anda, e eu fico parada, analisando, com medo. De repente eu não queira ser assim, de repente eu penso ser assim, não sendo. De repente eu esqueço tudo e vou dormir.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Calafrios



Não estou triste, tampouco feliz. Estou em uma calma irritantemente angustiada. Não sei para quem sorrir, ou o que falar. Apenas vivo desnorteada me alimentando de diversas maneiras, para sobreviver. Que razões me levam a isso, ainda não encontrei. Talvez a minha vontade de ser um pontinho mais significante no mundo me convença a encontrar sentimentos reais dentro de mim, sentimentos que também não me encontraram, o que torna difícil esse encontro tão desejado por minha angústia. Estranho como as pessoas estão constantemente idolatrando e sendo invisíveis, ao mesmo tempo que são idolatradas e tornam outros invisíveis. Meros sobreviventes do nascimento, é o que somos, tentando cobrir o silêncio com porquês, que levam a discussões, que se tornam separações. Tudo se resume a isso: explicações. Às vezes eu simplesmente não quero dizer o que estou procurando, talvez porque nem eu saiba e, caso encontre algo, não adiantaria mais falar.

Confesso que tenho meus momentos de euforia, e sempre encontro uma razão para explicar a que eles se resumem, mas também sei me convencer de que tudo passa, tudo acaba, todos se enganam e nada é como se vê, há muito além de tudo - muito mesmo, e quando consigo ser sincera comigo mesma me bate uma felicidade enorme. Talvez seja essa a minha prova de existência. Ou talvez não seja nada.

domingo, 2 de maio de 2010

Outro dia de Sol

E agora não mais se lembrava
Das palavras inúteis decoradas
Olhava no espelho o reflexo da derrota
E sorria derrotada
Irritantemente contente ela bailava
Pelas ruas de sua estrada corrida
Seguia leve e solta a menina
Que um dia foi tao temida
E fechando seus olhos
Sozinha ela sonhava
No dia por vir a sorrir
Tao mais quanto pensava
Ah, se por outro instante sonhasse
Na calma que traria seus olhos sem lágrimas
Nao mais pensava em abri-los por mal
So fecharia para tal
Sentimento tao feliz

domingo, 21 de março de 2010

Sinta

Calada, minuciosamente contava os segundos desde a última hora
Disfarçando, em um sorriso angelical digno de aprovação
Todo o descontentamento que lhe causara aquele ambiente
Se assim sempre o fizesse
Talvez se calasse até a morte
Sem nem ao menos se lembrar das suas últimas palavras
Tinha pressa em se ajustar ao tempo e espaço
Com isso, a solidão
A amplitude de sua aura e a estadia de sua visão
Por tanto pensar, angustiara-se
Perdida nas nebulosas virtudes de sua alma
E a mente, que possuía por completo
Agora corria seu rosto em lágrima
Inevitavelmente interpretada tão vulgarmente
Que mente, nem sente, somente
Em lágrima

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Frustração

Dizem que as pessoas de sucesso são uma mistura de duas virtudes: talento e esforço. Eu não tenho talento para nada e nunca fiz algo em que pensasse "Puxa, sou realmente muito boa nisso e as pessoas reconhecem". Não sou nenhum Van Gogh, Mozart ou Leibniz, porque, simplesmente, não tenho o dom para ser e, obviamente, nunca serei, por mais esforço que faça. Não sou muito boa em nada. Não sou boa com crianças - adultos, idosos, adolescentes... - não sei consolar as pessoas, não sei rir, não sei falar na hora certa - para mim, qualquer hora é certa - não sei gritar estridentemente, não sei plantar bananeira, não sei me maquiar, não sei contar histórias em menos de 269219814 minutos, não sei cozinhar, não sei nem correr direito! Não estou satisfeita com qualquer coisa que faça e nunca fiz nada grandioso. O auge do meu sucesso foi em um aniversário de 10 anos, quando cantava no karaokê e ouvi a moça do algodão doce dizer "Ela canta muito bem!" - foi tão inesquecível que até lembro que cantava "Coleção". Nunca mais vi essa moça, ou a moça da pipoca, do sorvete, do bolo, dos presentes... Penso em tudo que fiz: não consegui ser uma grande jogadora, bailarina, cantora, professora, pintora, desenhista, escritora, atriz, musicista. Eu sei, ainda sou muito nova, mas acho que o tempo já passou, já me frustrei e perdi as esperanças. Enfim, ainda há uma chance para mim: a engenharia. Bom, eu sei contar.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Glee

Um dia, eu não parei de sorrir.

Não era o meu aniversário, não ganhara na loteria, não me tornara uma grande engenheira, muito menos pensei em voar para longe. Não me lembrava de ter feito algo extraordinário para merecer tamanho transtorno. Eu apenas sorria. Não me importava o dia da semana ou há quantas horas já não era mais meia noite. Não sabia mais como era ser triste, depressiva, angustiada ou sorrateira. Eu apenas sorria. Sorria para o medo, para as árvores e meus familiares. Sorria como se não pudesse conter meu riso, por mais que tentasse. Não sabia a razão, mas não me importava, já que meu sorriso escondia qualquer dúvida em mim. Meu sorriso era calmo e tão amável, que, naquele dia, eu me amei. Então passei a sorrir por amor, amor que nunca sentira e sabia que não sentiria mais. Sorri, então, como se fosse o meu último dia e tivesse contente por deixar tudo no lugar. Não sabia que existia tal sentimento e sorri por descobri-lo às vésperas da minha hipotética partida. Sabia que não sentiria mais aquele sorriso em mim e, ainda, jamais veria em outra pessoa. Então sorri por ser a única a possui-lo. Sentia-me a melhor pessoa do mundo e nada acabaria com a minha alegria. Mas quando a vigésima quarta hora do dia acabou, eu me entristeci, pois já sentia falta do dia em que mais sorri.

Expor-se ao ridículo

Expor-se ao ridículo. Cabe-me de tantas maneiras impensáveis que, obviamente, não poderia defini-las. Cabe-me pensar que cada um é um ser hipoteticamente pensante, confusamente perambulante, mas lentamente mortal. Assim, todos os dias devo me acostumar a novas faces, novos teoremas, novas revoluções, novas congratulações e, concomitantemente, seguir a minha linha de pensamento. Essa linha pode se afastar dos meus desejos e pode se aproximar do abismo de ilusões: basta, a mim, equilibrar-me a manter a postura, fingindo um sorriso maquiavélico. Tudo que me foi concedido não pode ser roubado, embora transformado com o tempo. Tudo em mim pode ser explicado, não apenas sentido, não apenas visto, mas é tão complicado para uns apenas começar a sentir. É tão subestimada a aura jubilosa em um deserto tenebroso, assim como meus olhos em um mar de gente. Gente que sequer sabe o porquê de hoje. Gente que não se dá ao luxo de explorar certas águas, por serem secas e inexplicáveis. Talvez confuso de entender, mas tão visível é a hesitação que as palavras fazem nas cabeças hipoteticamente pensantes, confusamente perambulantes, mas lentamente mortais.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Talvez se expresasse

Talvez tivesse medo buscar e encontra-las
Talvez tampouco gostaria de pronunciar por senti-las
Talvez se houvesse com o escuro que clareasse
Talvez nao fosse grande o suficiente que a afetasse

Talvez por medo de errar tentou mentindo
Talvez escondendo atrás de si se fez fingida
Talvez fosse a verdade que esperava calma
Talvez fosse o fundo o fim da sua ida

Talvez buscasse se livrar do mundo
Talvez o mundo já nao a tivesse
Talvez seus olhos fossem os mudos
Talvez tudo que era agora adormesse

Talvez um dia entao encontre
Talvez um mundo entao a ame
Talvez o sol entao brilhe
Talvez a voz entao a chame

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Daily Dawn

3:00
Sentada ao monitor, na escuridão da madrugada, oito filmes passam em minha cabeça e as imagens se confundem, como em uma valsa colorida, apressada. Os sons se misturam e meus pensamentos congelam - desperto repentinamente. Radiohead ecoa e "Jigsaw Falling Into Place" toma conta da minha mente e do meu corpo. Corpo suado, calmo, que ainda não se cansou. Volto a raciocinar e percebo o monitor ainda em minha frente.

3:30.
Silenciosamente, direciono-me para o calor da noite e para a tranquilidade dos corpos adormecidos em seus lugares. Sozinha, sinto-me viva e escrevo. Escrevo para o tempo parar e eu continuar vivendo. É a chance da minha solidão me dominar e eu aceitá-la por inteiro.

4:00
A água desliza sobre o meu corpo, sentindo minhas curvas e imperfeições. O perfume se espalha por todo o ambiente, e, de olhos fechados, respiro fundo para a noite. A calma, ainda em mim, completa-me e esqueço o tempo, o espaço, esqueço o meu corpo. Mergulho em minha virilidade, e só.

4:30
Deitada sobre o lençol, olho o teto através do escuro. Sinto-me sufocada e, ao mesmo tempo, a liberdade me preenche inexplicavelmente. Ponho os fones no ouvido, para esquecer o barulho do vento e os ruídos da avenida. E novamente Radiohead ecoa em mim. "Nice dream" sugestivamente se espalha por todo o meu corpo, até que sinto meus pés se contorcendo com a melodia. A angustia me provoca e surto com um grito ensurdecedor. Ninguém acorda. Adormeço.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sid por Nancy

Milhas separam a alma dos olhos, que tentam enxergá-la aos poucos. Pouco tempo que flui, impetuosamente. Vago como o fundo do tambor, é a alma, então, que estronda unissonante. Não fala de amor, isso basta. Não teme ser pecador, acalma. Não suspira o horror, mas há quem se apavore. Afirma solidão, mas da Lua sente provocação. Sendo um espinho em uma flor, vê-se flor bela em cor. Evita ser mundano, sendo brando inteira e loucamente, fulgindo nos olhos cegos em devaneios. Tem lábios que não falam, nem beijam. Mãos que não acariciam, mas se expressam. Deseja a carne, esquecendo que também tem alma, os olhos que sentem.