sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Observe o post

"Sentei em uma mesa próxima a um casal que está discutindo, provavelmente, a relação. O cara gritou com ela, 'É mentira!!!', e ela, de braços cruzados, demonstrando indiferença, falou, 'Deixa eu falar?'. 'Diga, você só sabe falar mesmo'. (haha good one) A coitada, nem soube o que responder. É o tipo de situação que bate um desespero por não arranjar as palavras que cubram a raiva. Uma loira, com seus 30 anos, sentou à mesa ao lado e não para de sorrir. Deve estar no começo de um romance - e vai acabar como o casal da mesa ao lado. Um homem chegou e sentou ao seu lado, como eu imaginava. Agora são dois sorridentes, perdidos. Amor é como açúcar: se comer muito, passa mal, mas enquanto come, dá uma felicidade. (A experiente falando sobre isso!) Do outro lado da rua há pessoas correndo, caminhando, passeando com animais estranhinhos, ouvindo música; outras, sentadas, como eu. Eles passam tranquilos, rindo, sérios, conversando, mas enquanto isso, a cabeça deles borbulham de opiniões, críticas, vinganças e vontades e, no fundo, não podem fazer muita coisa. É como se um analfabeto tentasse xingar alguém pela internet. Eles estão de tênis, sandálias, descalços, com uma música na cabeça, um frio na barriga. Há até uns idiotas na mesa da frente tirando fotos, enquanto comem açaí. Nossa, finalmente a loira e o homem se beijaram. Quando terminam, ela sorri apaixonada para ele, procurando seus olhos, enquanto ele olha com um sorriso amarelo, desconfiado, para a mesa. Será que só eu percebi isso? O céu começa a ficar rosadinho. O Sol, já não se vê mais. É a hora que eu mais gosto. Aliás, gosto mais ainda quando o céu está azul marinho. O mar está lindo, o clima agradável, o vento suave e frio. O cor-de-rosa se misturou com o laranja e o azul do céu. Enquanto isso, o casal, supostamente apaixonado, não pára de conversar. O silêncio deles é um beijo ardente. O céu agora é roxo, tranquilizante. Uma mulher chegou carregando flores, para vender. O impulso dela foi caminhar em direção aos casais, ignorando o restante - incluindo eu. O cara comprou uma rosa vermelha para a mulher com quem estava discutindo. O homem não comprou para a loira. Aposto que ela queria, dá para ver em seus olhos, mas o homem não quis se comprometer. Que isso significa? Que há por trás de beijos e abraços e discussões? Nem observando eu pude descobrir. Será que estou olhando muito descaradamente para todos? Quando escrevo assim, esqueço de mim e de como estou agindo - inclusive reagindo às emoções de acordo com o que acontece. 17h30. Escrevo há exatamente 1h40 e estou muito calma. Vou aproveitar esse céu azul marinho - andar na areia, correr, o que seja. Nem o vento sabe para onde me levar"

Há mais de dois anos a minha terapia é escrever. Nunca me importei sobre o que eu escrevia: so dependia do que me vinha na cabeça. Ano passado, precisamente a 08 de maio, em um dia muito estressante - principalmente por causa dos pirralhos da monitoria - corri para a sorveteria em frente a praia e tentei fugir meus pensamentos dos meus problemas. Solução: observar todos ao meu redor. É até engraçado, e confesso como eu consegui me tornar imperceptível - quando uma mulher falou comigo, a frequência dos meus pensamentos caiu e foi como se eu mesma tivesse caído.

Mas é muito difícil observar as pessoas. Isso implica que é preciso, também, observar o lugar e, até mesmo, as pessoas ao redor da observado principalmente. Enfim, há uma série de fatores que, juntos, formam o ser observado. Então, como observaremos verdadeiramente alguém? Acredito que ela seja ela mesma, quando sozinha, sem ninguém a observando. Quando há um outro ser no mesmo ambiente, seu comportamento muda, de maneira não-natural. É complicado conviver com a sociedade, já que ela se modifica a cada contato, que se misturam de maneira que no resultado: ninguém se conhece de verdade. Nem mesmo nós mesmo, agimos de acordo com os outros, logo, somos aquilo entre o que queremos ser e o que a sociedade quer que sejamos.