sábado, 16 de janeiro de 2010

Glee

Um dia, eu não parei de sorrir.

Não era o meu aniversário, não ganhara na loteria, não me tornara uma grande engenheira, muito menos pensei em voar para longe. Não me lembrava de ter feito algo extraordinário para merecer tamanho transtorno. Eu apenas sorria. Não me importava o dia da semana ou há quantas horas já não era mais meia noite. Não sabia mais como era ser triste, depressiva, angustiada ou sorrateira. Eu apenas sorria. Sorria para o medo, para as árvores e meus familiares. Sorria como se não pudesse conter meu riso, por mais que tentasse. Não sabia a razão, mas não me importava, já que meu sorriso escondia qualquer dúvida em mim. Meu sorriso era calmo e tão amável, que, naquele dia, eu me amei. Então passei a sorrir por amor, amor que nunca sentira e sabia que não sentiria mais. Sorri, então, como se fosse o meu último dia e tivesse contente por deixar tudo no lugar. Não sabia que existia tal sentimento e sorri por descobri-lo às vésperas da minha hipotética partida. Sabia que não sentiria mais aquele sorriso em mim e, ainda, jamais veria em outra pessoa. Então sorri por ser a única a possui-lo. Sentia-me a melhor pessoa do mundo e nada acabaria com a minha alegria. Mas quando a vigésima quarta hora do dia acabou, eu me entristeci, pois já sentia falta do dia em que mais sorri.

Expor-se ao ridículo

Expor-se ao ridículo. Cabe-me de tantas maneiras impensáveis que, obviamente, não poderia defini-las. Cabe-me pensar que cada um é um ser hipoteticamente pensante, confusamente perambulante, mas lentamente mortal. Assim, todos os dias devo me acostumar a novas faces, novos teoremas, novas revoluções, novas congratulações e, concomitantemente, seguir a minha linha de pensamento. Essa linha pode se afastar dos meus desejos e pode se aproximar do abismo de ilusões: basta, a mim, equilibrar-me a manter a postura, fingindo um sorriso maquiavélico. Tudo que me foi concedido não pode ser roubado, embora transformado com o tempo. Tudo em mim pode ser explicado, não apenas sentido, não apenas visto, mas é tão complicado para uns apenas começar a sentir. É tão subestimada a aura jubilosa em um deserto tenebroso, assim como meus olhos em um mar de gente. Gente que sequer sabe o porquê de hoje. Gente que não se dá ao luxo de explorar certas águas, por serem secas e inexplicáveis. Talvez confuso de entender, mas tão visível é a hesitação que as palavras fazem nas cabeças hipoteticamente pensantes, confusamente perambulantes, mas lentamente mortais.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Talvez se expresasse

Talvez tivesse medo buscar e encontra-las
Talvez tampouco gostaria de pronunciar por senti-las
Talvez se houvesse com o escuro que clareasse
Talvez nao fosse grande o suficiente que a afetasse

Talvez por medo de errar tentou mentindo
Talvez escondendo atrás de si se fez fingida
Talvez fosse a verdade que esperava calma
Talvez fosse o fundo o fim da sua ida

Talvez buscasse se livrar do mundo
Talvez o mundo já nao a tivesse
Talvez seus olhos fossem os mudos
Talvez tudo que era agora adormesse

Talvez um dia entao encontre
Talvez um mundo entao a ame
Talvez o sol entao brilhe
Talvez a voz entao a chame

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Daily Dawn

3:00
Sentada ao monitor, na escuridão da madrugada, oito filmes passam em minha cabeça e as imagens se confundem, como em uma valsa colorida, apressada. Os sons se misturam e meus pensamentos congelam - desperto repentinamente. Radiohead ecoa e "Jigsaw Falling Into Place" toma conta da minha mente e do meu corpo. Corpo suado, calmo, que ainda não se cansou. Volto a raciocinar e percebo o monitor ainda em minha frente.

3:30.
Silenciosamente, direciono-me para o calor da noite e para a tranquilidade dos corpos adormecidos em seus lugares. Sozinha, sinto-me viva e escrevo. Escrevo para o tempo parar e eu continuar vivendo. É a chance da minha solidão me dominar e eu aceitá-la por inteiro.

4:00
A água desliza sobre o meu corpo, sentindo minhas curvas e imperfeições. O perfume se espalha por todo o ambiente, e, de olhos fechados, respiro fundo para a noite. A calma, ainda em mim, completa-me e esqueço o tempo, o espaço, esqueço o meu corpo. Mergulho em minha virilidade, e só.

4:30
Deitada sobre o lençol, olho o teto através do escuro. Sinto-me sufocada e, ao mesmo tempo, a liberdade me preenche inexplicavelmente. Ponho os fones no ouvido, para esquecer o barulho do vento e os ruídos da avenida. E novamente Radiohead ecoa em mim. "Nice dream" sugestivamente se espalha por todo o meu corpo, até que sinto meus pés se contorcendo com a melodia. A angustia me provoca e surto com um grito ensurdecedor. Ninguém acorda. Adormeço.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sid por Nancy

Milhas separam a alma dos olhos, que tentam enxergá-la aos poucos. Pouco tempo que flui, impetuosamente. Vago como o fundo do tambor, é a alma, então, que estronda unissonante. Não fala de amor, isso basta. Não teme ser pecador, acalma. Não suspira o horror, mas há quem se apavore. Afirma solidão, mas da Lua sente provocação. Sendo um espinho em uma flor, vê-se flor bela em cor. Evita ser mundano, sendo brando inteira e loucamente, fulgindo nos olhos cegos em devaneios. Tem lábios que não falam, nem beijam. Mãos que não acariciam, mas se expressam. Deseja a carne, esquecendo que também tem alma, os olhos que sentem.